segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A classe que sonha com ‘C’

Construtoras estão lançando imóveis voltados à classe C com atrativos antes dispensados aos compradores de alto padrão: apartamento-modelo decorado, espaço grill, salão de fitness e até cinema. Resultado: 100% de unidades vendidas na planta, como no Vivere Imirim Condomínio Clube, na zona norte de SP. São apartamentos de 46,5 m2 que custam entre R$ 130 mil e R$ 150 mil.

Os marqueteiros que se dedicam a estudar o fenômeno da nova classe média brasileira aproveitaram o “C”, de classe C, para definir essa parcela da população que ascendeu socialmente na última década. “Basicamente, tudo o que coloca esses brasileiros no meio da pirâmide começa com a letra C”, diz Renato Meirelles, do instituto de pesquisa Data Popular. “Carteira assinada, canudo (diploma), consumo, computador, casa própria, carro zero, cruzeiro, cartão de crédito, e por aí vai.”

Apesar de terem características comuns, os integrantes da nova classe média têm perfis e necessidades diferentes em cada região do País. No Nordeste, por exemplo, os 18 milhões de habitantes que pertencem à classe C usam muito mais cartão de crédito do que em qualquer outra região. Lá, 67% dos consumidores da classe C fazem compras com cartão. É mais até do que nos estados do Sudeste, onde esse porcentual é de 64% e no Sul, com 54%, segundo levantamento do Data Popular. “Essa situação está diretamente ligada à inclusão bancária”, diz o presidente da Associação Brasileira de Cartões de Crédito e Serviços, Paulo Caffarelli. “Muita gente no Sul tem conta corrente, mas pode não ter cartão. E no Nordeste há muito mais gente com cartão e sem conta corrente.”

A aposentada pernambucana Elieldelza Souza de Albuquerque, de 71 anos, compra tudo com cartão de crédito. Costuma usar os cartões de loja e o Hipercard, que não cobra anuidade. Uma das últimas aquisições foi um fogão de quatro bocas, comprado no fim do ano passado, com o cartão da filha. “A data do cartão dela fica melhor para mim, porque não coincide com o vencimento dos meus cartões”, explicou. Com o salário do marido, a renda na casa de Edieldeza é de R$ 2 mil. Pagando à vista, seria impossível ter trocado a geladeira por uma duplex no ano passado, emendando a compra do fogão novo.

Caixa de uma unidade da rede Eletro Shopping, com 110 estabelecimentos espalhados pelas cidades do Nordeste, Edilza Moreira garante que de cada 10 clientes de baixo poder aquisitivo, sete pagam com cartão de crédito. “Só os mais bem remunerados pagam no débito”, afirmou.

Embora esteja no Nordeste o maior crescimento da população de classe C nos últimos anos, é o Sul do País que tem a maior concentração da nova classe média. “Lá temos um perfil bem diferente: uma classe C que lê mais jornal, mais escolarizada e, consequentemente, com intenções de consumo distintas”, diz Renato Meirelles, do Data Popular. Um exemplo: o Sul é a única região do País em que o computador não lidera a lista de futuras aquisições da classe média. No topo do ranking, está o carro – um bem muito mais valioso.

Contrariando o senso comum, é Florianópolis a cidade mais classe C do País: metade da população da capital catarinense, de 409 mil habitantes, tem renda familiar entre R$ 1,5 mil e R$ 6 mil – faixa que classifica essa categoria da pirâmide social. “É uma cidade com uma classe média mais antiga”, diz Marcelo Néri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas.

Alguns fatores ajudam a entender essa predominância: funcionalismo público, migrantes em busca de qualidade de vida e baixa “favelização”. Pesquisas apontam que o nativo da Ilha de Santa Catarina já é minoria entre a população. Pelo menos 60% da população é originária do interior do Estado, mas também com grande ascendência gaúcha, paulista e paranaense. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), dois em cada cinco trabalhadores da capital catarinense estão empregados em um dos três níveis do setor público.

A cidade que se mostra um oásis para a classe C em busca de qualidade de vida, exclui naturalmente famílias com renda mais baixa. “Por ser uma capital cara, a população das classes D e E acaba se instalando em cidades vizinhas, da região metropolitana”, explica o economista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Jurandir Sell.

A história de Francisco Assis Marcelino, de 52 anos, é emblemática. Ex-agente de portaria, ele já foi office-boy e hoje trabalha como técnico do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em Florianópolis. Ele se mudou para a capital catarinense, em 1983, quando deixou o município de Tubarão, depois da morte do pai.

Na ilha, com a mulher Kirana Marcelino, hoje bancária aposentada, Francisco experimentou a ascensão da renda. Depois que virou funcionário público, conseguiu trocar a casa alugada por um imóvel próprio, com quatro quartos. Já teve um Fusca 1986 e duas Paratis usadas. Mas só no ano passado, conseguiu comprar o primeiro carro zero, um Ford Fiesta. A casa de praia,  está em reforma.

“Vivo realizando sonhos. Não posso reclamar. Tudo que a gente faz e conquista é do nosso jeito, devagar, economizando e batalhando”, diz. “Hoje, temos segurança para planejar e desfrutar de pequenas coisas.”

O próximo plano está definido: um cruzeiro de 15 dias pela costa brasileira – presente de aposentadoria que Kirana se prometeu. “A mala foi comprada assim que me aposentei.”. Do Jornal da Tarde

Os Amigos do Presidente Lula: A classe que sonha com ‘C’

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