quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Kassab, o ilusionista

São 120 mil crianças sem creche ou pré-escola. Mas Kassab usa números para criar uma ilusão. A de que ampliou vagas na educação infantil. A verdade é bem outra.image

O jornal Agora desta quarta, 09 de fevereiro, conta mais uma história de abandono e descaso do Prefeito com as regiões mais carentes da cidade de São Paulo (leia aqui). Não nos surpreende. Como já denunciei no post “Kassab, Robin Hood às avessas”, mesmo com aumento previsto de 22% nas receitas, Kassab reduziu as despesas justamente nas regiões mais pobres. Como divulgou o Agora, os distritos da zona Sul Jardim Ângela, Capão Redondo, Grajaú e Campo Limpo aparecem com o maior déficit de vagas na cidade. Todas tem lista de espera de creche com mais 4 mil crianças em cada região, sem atendimento. Veja a lista do Agora ao final.  São mais de 120.000 crianças na espera de vagas na educação infantil. 100 mil em idade de creche. O jornal denuncia ainda que a prefeitura reduziu o número de novas matrículas durante o ano comparando 2009 (13.438) e 2010 (7.257) - um decréscimo de 46%.

Números mágicos
A Secretaria Municipal de Educação afirmou ao jornal Agora (leia aqui) que o ano começou com mais matrículas. Segundo SME, são 187 mil crianças matriculadas nas creches da cidade. Observem que a reportagem não explica se são creches da prefeitura ou não. Pelo que disse SME eram 130 mil vagas em 2010. Por essas contas, foram criadas então, 57 mil vagas em 2011. Só que em setembro, a prefeitura informava que eram 125 mil crianças na espera (leia aqui). Agora são 100 mil. Na minha conta, se mais 57 mil vagas surgissem, sobrariam “só” 68.000 crianças. Chamem o Mister “M”.
Essa mágica eu não sei explicar, mas para aumentar o número de vagas sem construir creches ou contratar professores é fácil. No CEI em que trabalho, por exemplo, aumentou 25% o número das vagas em 2011, apenas deixando de atender crianças de 1 ano para atender crianças de 4 anos. Assim, um professor pode atender mais crianças, pois quanto mais velhas, mais superlotadas são as salas. Outro truque é aumentar por decreto a superlotação das creches para crianças de 4 anos. Até 2010 as turmas de 4 anos tinham no mínimo 18. Em 2011 esse número subiu para 25 (38% a mais). Assim uma professora que atendia 7 crianças de um ano em 2010, em 2011 pode atender 25 com 4 anos. Um aumento de “produtividade” de 257% deve ser considerado um choque de gestão pelos conceitos da atual administração. Mas como já denunciei aqui, a estratégia da superlotação criou a ociosidade. Foram mais de mil professoras de creche excedentes nas unidades. Como há um limite físico da sala, onde duas professoras atendiam 14 crianças, uma atende 25. O milagre da multiplicação, sem precisar construir uma creche. Sem precisar contratar um professor. Pelo contrário, tirando-as de suas funções.

Mais mistérios
Outro número informado à reportagem que não bate é o de ampliação de vagas entre 2005 e 2010. Kassab, pela sua Secretaria de Educação, afirma que as vagas foram ampliadas no período de 59 para 130 mil. Ou seja, 71.000 novas vagas. imageNão é o que diz o Censo Escolar divulgado no site do INEP nos anos de 2005 e 2010 (clique no ano para conferir). Conforme o Censo Escolar, entre 2005 e 2010 as matrículas em creches na cidade de São Paulo cresceram menos de 27 mil vagas, contando, além das mantidas pela prefeitura, com aquelas de dependência estadual e federal, e, pasmem, das particulares (que devem incluir os convênios com a PMSP, supõe-se). Em creches municipais foram criadas pouco mais de 6.800 vagas, em cinco anos, incluindo as 3145 vagas estaduais que foram municipalizadas. Mas não só esses dados imageimpressionam. As vagas em pré-escola foram reduzidas em mais de 40 mil. Isso significa que as vagas deixadas nas escolas infantis por crianças de 6 anos que foram para o ensino fundamental não foram convertidas em vagas para a educação infantil que nas pré-escolas permanece com uma lista de 20 mil na espera.
Eu já havia denunciado no texto “Creches conveniadas perto do fim em São Paulo?” que no primeiro mandato de Kassab, ele “reduziu mais de 133 mil alunos (-13,5%) da rede, sem contar CEIs e creches, em todos os segmentos:  EMEIs  (-3,6%),  Fundamental  (-10,9%),  Ensino Médio (-14,3%), EJA fundamental (-41,6%). Comparados os dados de 2009 com os dados de 31/12/2004(6), a rede direta de CEIs também encolheu quase 13%. Somente a rede conveniada cresceu, e bastante: 77,3%. Esses dados indicam concretamente uma fuga do investimento da educação pública para o setor privado, ainda que filantrópico. Vemos um retrocesso histórico.”
Há um desmonte contínuo e silencioso na educação, escondido sob um manto de números fictícios, não fiscalizados pelas instituições que deveriam garantir o direito à educação, e não denunciados por uma mídia omissa e partidária. Nessa cartola esconde-se ainda, um processo de privatização pelo caminho do conveniamento de creches. Como demonstram os números oficiais, há crianças e jovens deixando de estudar em São Paulo. Onde Kassab os esconde? Como tem feito esse truque por tanto tempo?

Confira abaixo o ranking da fila nas creches ou clique aqui para ver o PDF

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