quarta-feira, 13 de abril de 2011

André Cintra: E FHC abandonou o “povão”

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FHC desagrada a tucanos e escancara viés elitista do PSDB

O polêmico artigo “O Papel da Oposição”, assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e divulgado nesta terça-feira (12), constrangeu lideranças do PSDB e acirrou a crise dos partidos oposicionistas. Num momento em que tucanos como o governador Geraldo Alckmin (SP) e o senador Aécio Neves (MG) tentam se aproximar das centrais sindicais e de segmentos populares, FHC apregoa, no texto, que o PSDB deve abrir mão tanto dos movimentos sociais quanto do “povão”.

Por André Cintra, no Vermelho

“As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental”, escreve o ex-presidente. Segundo ele, o PSDB tem de dialogar com “toda uma gama de classes médias” — único público que, a seu ver, não sofre a influência do “lulopetismo”.

“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”, dispara FHC, numa crítica indireta aos atuais governadores e parlamentares tucanos. Para o ex-presidente, o governo Lula “aparelhou” e “cooptou” as centrais, “os movimentos organizados da sociedade civil”, as “massas carentes” e até a grande mídia (“com as verbas publicitárias”).

A reação ao artigo foi imediata. Acostumados a criticar as opiniões de FHC apenas nos bastidores, vários tucanos expressaram, publicamente, divergências frontais com o texto. Também o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), rebateu o ex-presidente e declarou que a oposição deve “sair do Congresso e ganhar as ruas”, para “ampliar sua capacidade de se comunicar com todos os segmentos sociais”.

Para o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), a “sensibilidade social” de uma legenda partidária “deve estar voltada justamente às camadas mais pobres da população. Essas camadas devem ser a prioridade do partido”. O desafio, segundo Dias, é “encontrar meios de falar às camadas mais pobres” sem passar pelos movimentos sociais.

Aécio Neves avalia que o PSDB precisa “se inserir no Nordeste” e se aproximar nacionalmente dos movimentos sociais. De acordo com senador, os tucanos já conseguiram tal feito em Minas Gerais — opinião mais do que discutível, já que, nas eleições presidenciais de 2010, o eleitorado mineiro preferiu Dilma Rousseff a José Serra (58,45% a 41,55%).

O artigo de FHC, de quebra, alimentou a imagem elitista do tucanato. Na opinião do jornalista José Roberto de Toledo, o texto “ficará lembrado como um reforço à imagem de demofobia do PSDB”, especialmente de Fernando Henrique. “A maioria das pessoas, as tais ‘massas carentes e pouco informadas’, vai entender: o PSDB deve esquecer o ‘povão’.”

Para Jairo Nicolau, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, no Rio de Janeiro, “é uma fantasia imaginar uma volta ao poder sem uma base popular”. Fábio Wanderley Reis, da UFRJ, agrega: “É uma abdicação problemática. Um partido existir e governar, na democracia, tem a ver com maiorias. Abdicar do povão é condenar-se a ser minoria sempre”.

O sociólogo Humberto Dantas é mais taxativo. Ao comentar a expressão “pouco informadas” — usada por FHC —, ele aconselha o ex-presidente a “se perguntar o que o PSDB tem feito para educar politicamente esses eleitores”. E emenda: “Ao invés de abandonar o povão, candidatando-se a continuar oposiç

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