domingo, 3 de abril de 2011

João e a USP: “Você não pode tratar desiguais como se fossem iguais”

É uma disgraça (é isso mesmo, revisor: uma disgraça)

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- João, o que você acha desse bônus de 15% para aluno de escola pública que quiser entrar na USP ?
- Muito justo.
- Por que ?
- Você não vai querer que um aluno de escola pública vá disputar de igual para igual com um aluno de escola particular massa.
- Ué, mas o aluno da escola massa não tem nada a ver com isso.
- Como não ?
- Sim, o aluno da escola massa estuda e quer entrar na USP. Não tem nada a ver com a bagunça da escola pública.
- Mas, todos têm que ter as mesmas chances. Ninguém escolhe uma escola ruim porque quer, respondeu o João.
- Quem disse que todo mundo tem que ser igual ?
- Ninguém precisa dizer. Nós somos iguais. 
- Então quem é pobre tem que ter mais ?
- Você não pode tratar os desiguais de forma igual, respondeu o João, sem sair do Ipad.
- Quem te disse isso ?
- Eu acho.
- Explique seu raciocínio.
- Se você tratar os desiguais de forma igual o desigual será sempre desigual.
- E se você tratar o desigual de forma igual, o que muda, João ?
- O desigual fica igual.
- E os teus colegas do colégio (particular, em São Paulo). O que eles acham disso ?
- Acham péssimo, respondeu o João.
- Por que ?
- Porque com os 15% para o aluno da escola pública fica mais difícil para o aluno da escola particular.
- E eles não estão gostando nada disso, imaginei.
- Uma colega minha disse que isso é uma desgraça. Foi o que ela disse no Facebook.
- É razoável, João. Para ela é uma desgraça.
- Mas, “disgraça” com “i” – você acha razoável ?
João tem 16 anos e cursa um dos melhores colégios particulares de São Paulo.
O diálogo ao longo do jantar – ele não saía do Ipad – se deu a propósito desta notícia:
Saiu no G1:

USP aprova bônus de até 15% para alunos de escolas públicas na Fuvest

Alunos de escolas públicas vão fazer duas provas durante o ensino médio. Outras mudanças no vestibular serão votadas em nova reunião.
Vanessa Fajardo e Fernanda Nogueira Do G1, em São Paulo

A reunião do Conselho de Graduação da Universidade de São Paulo (USP) terminou por volta das 16h50 desta quinta-feira (31) com a aprovação de um bônus maior nas notas dos estudantes de escolas públicas. Eles podem ganhar até 15% a mais na nota do vestibular de acordo com desempenho em duas provas do vestibular da primeira fase da Fuvest durante o ensino médio, uma no segundo e a outra no terceiro ano. Atualmente, o bônus máximo é de 12%.

Só terá direito a participar do Programa de Avaliação Seriada da Universidade de São Paulo (Pasusp) o aluno que cursou os ensinos fundamental e médio exclusivamente em escola pública, mas que ainda esteja matriculado. No segundo ano do ensino médio, o estudante deverá prestar o vestibular como treineiro concorrendo ao bônus de acordo com o seu desempenho, que pode lhe valer até 5% de bônus. Para atingir este teto, ele terá de acertar 40 de 90 questões, porém ao fazer a prova terá 2% de bônus garantido, mesmo que não tenha conquistado nenhum ponto.

“Nosso objetivo é incentivar e aproximar cada vez mais o aluno escola pública da USP”, disse Telma Zorn, pró-reitora de graduação.
Esta bonificação faz parte do programa de inclusão de alunos de escola pública, o Inclusp. Implantado pela primeira vez no vestibular 2007, o Inclusp foi criado para aumentar a participação de estudantes de escolas públicas na universidade. Em 2010, essa parcela foi de 25,4% dos inscritos.

Em tempo: o Stanley Burburinho recomenda a leitura do editorial da Folha, na página 2 de hoje: A Folha constata que o ProUni toma estudantes da USP. A Folha descobre, também, que outras escolas públicas e privadas levam alunos da USP por causa da “qualidade”. Este ansioso blogueiro conclui: a USP paga o preço de 17 anos de Reinado tucano.
Paulo Henrique Amorim

Publicado em 01/04/2011 - João e a USP: “Você não pode tratar desiguais como se fossem iguais”

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