segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Lula tem que morrer

Por Celso José de Brum

Não se trata, definitivamente não se trata, de uma conspiração tramada nas sombras da caverna da liga do mal, para assassinar o cidadão Luiz Ignácio Lula da Silva. Mesmo sabendo-se que a inteligência e a criatividade da direita reacionária sejam parcas, até mesmo a direita reacionária, sabidamente inescrupulosa, reconhece que Lula martirizado fica ainda mais forte, muito mais forte. Assim, o que se persegue desesperadamente é a morte do mito, dessa lenda viva chamada Lula.

Para aqueles que estudaram e estudam a História do Brasil e acompanham os acontecimentos dos últimos 50 anos, algumas lições ficaram claras. A sociedade brasileira ainda mantém nítida a marca da desigualdade e as elites, que dominam e controlam a maioria de nossas instituições, ainda se consideram destinadas, por direito divino, a conduzir a massa ignara, esta destinada, também por direito divino, a obedecer e, de vez em quando ou de vez em sempre, levar varadas pedagógicas no lombo. Não é preciso dizer de que lado está a direita reacionária neste drama (ou farsa?) histórico.

Na política, salvo raros momentos, esse quadro foi mais do que evidente. E, para qualquer estudante aplicado de História, nesses raros momentos, em que as elites perderam o controle político,  o Brasil progrediu e assistimos novos caminhos serem abertos.

Foram as elites que articularam o golpe militar de 1964, que vinham tentando desde 1954. Não fosse o tiro no coração de Getúlio Vargas, a ditadura (“ditabranda”, no dizer da Folha) teria sido imposta já em 1954.

A ditadura militar (militar sim, mas, como disse, tramada também pelas elites civis) de 1964, foi o que foi e de suas principais “realizações”, agora se ocupa (e espera-se que seja com ímpeto, força e amor pela justiça) a Comissão da Verdade.

Passada essa idade das trevas, que foi a ditadura militar, as elites trataram de garantir o poder político, o que conseguiram até 2002. No entanto, a política das elites cuidava bem das elites e a massa ignara continuava vítima da fatalidade histórica: afinal é natural que existam os ricos e os pobres e, entre estes, os párias, os miseráveis, os que morrem de fome, tudo isso é muito natural.

Como, na Democracia, votam todos (não só, “como deveria ser”, os filhos das elites) e, de repente os “coronéis” tivessem perdido o controle de seus currais eleitorais, ocorreu uma inesperada reação da massa ignara: a vitória do representante dileto do povão, da gentalha, da plebe, da ralé, enfim, da massa ignara que – para fazer o que dela esperam as elites – deveria conhecer bem o seu lugar, subalterno, dócil, cordial e humilde.

Para o PSDB (uma UDN apoplética, que agora defende os interesses das elites) a vitória de Lula era o seu plano B. O plano A, lógico, era a vitória do seu candidato. O que mais temiam os tucanos era a vitória de Ciro Gomes, que os havia “jurado”, para usar um termo (“jurado”) bem nordestino. As elites e o PSDB  consideravam, primeiro, que a vitória de Lula era um tributo a pagar pela inevitável (e muitas vezes incômoda) Democracia, segundo, que Lula e o PT iriam fracassar. Com o certo e seguro fracasso de Lula e do PT, as elites voltariam ao poder, direito inequívoco, perfeito e natural.

No entanto, o plano aprimorado, esmerado e lapidar (porque não dizer divino, sublime e maravilhoso) do PSDB e das elites foi “por água abaixo”, quando Lula e o PT realizaram uma obra histórica que, nem os mais otimistas, poderiam esperar. E transformaram o Brasil.

Não foi necessário hostilizar as elites, nem foi preciso utilizar nenhuma utopia (como o socialismo, por exemplo). Foi usando as próprias contradições do capitalismo e recuperando brilhantemente, em seus fundamentais princípios, o abalado (pelo governo Fernando Henrique) Plano Real, que o Presidente Lula fez um governo de extraordinárias conquistas e realizações. Provou que era e é possível fazer, da distribuição de renda, fator do desenvolvimento, fez diminuir a miséria extraordinariamente, levou para  a classe média milhões de pessoas, democratizou  (com o Pró-Uni e outras instituições  similares) o acesso dos pobres ao ensino superior, reduziu a inflação e fez baixar os juros básicos,  fez diminuir o chamado risco-Brasil e elevou o país à condição de protagonista no concerto das Nações.

O sucesso de Lula o fez reconhecido internacionalmente. Lula, o filho do Brasil, amado pela plebe, passou a ser odiado por uma certa e poderosa parcela das elites. É curioso que as elites foram muito beneficiadas pelo governo Lula, pelo desenvolvimento do país.

Mas, para setores das elites, é inadmissível que um operário metalúrgico, retirante nordestino, apenas com o diploma do SENAI, possa realizar o governo que realizou, conseguindo êxitos, nunca dantes conseguidos pelos filhos das elites. É por isso que Lula tem que morrer. Lula vivo, ou seja, Lula honrado, é uma ameaça ao direito divino das elites em manter o poder. É preciso matar Lula, portanto, é preciso degradar Lula, é preciso aviltar Lula, é preciso injuriar Lula, é preciso difamar Lula. Para tanto, vale tudo, qualquer torpeza, qualquer sordidez, qualquer vilania, qualquer indignidade. E é isto que está acontecendo, de muitas maneiras.

Tudo e tudo sendo assistido, quase sempre, sob o impassível olhar de parte das esquerdas brasileiras.

Vamos deixar bem claro: Lula, nem ninguém,  está acima da Lei. Mas, é preciso questionar a preferência que se dá ao Lula e ao PT, esquecendo-se ou postergando-se as acusações aos filhos das elites (onde anda a investigação – se é que existe investigação – de tudo quanto foi denunciado – com provas – pelo livro “Privataria tucana”, por exemplo?).

Falava eu, linhas atrás, do impassível olhar de parte das esquerdas brasileiras. Confesso que me aborrece o fato de vestais e catões das esquerdas repetirem os mantras da direita reacionária, como se a direita fosse ética ou como se a ética fosse propriedade da direita.

Lula e os petistas não são anjos, são apenas seres humanos, sujeitos a erros, como todos nós. Mas, com toda certeza, a guerra que a direita reacionária perpetra contra eles, nada tem a ver com democracia ou com defesa dos bons costumes. É só e tão somente pela conquista do poder, que esses fariseus consideram seu, por direito divino. As vestais e os catões das esquerdas, portanto, que entoam os mantras (sobre ética) da hipócrita e safada direita reacionária, portam-se como “colaboracionistas”, para usar um termo terrível, porém, menos ofensivo que “inocentes úteis”.

A direita reacionária sabe que não tem como conquistar o poder “jogando limpo”. Os corifeus da direita (PSDB e associados) não tem propostas e ideias capazes de ganhar o apoio popular. Resta-lhes o indecente e abjeto recurso da desconstrução dos adversários. E Lula é o símbolo, a bandeira, o líder inconteste que encanta e inspira as multidões. Para os corifeus da direita e para as elites, que dominam a maioria de nossas instituições, Lula tem que morrer.

As esquerdas brasileiras  não podem assistir a isso, sem uma reação.

É verdade que essa reação terá que ser legal, dentro das atuais regras do jogo e no âmbito e para fazer avançar a Democracia.

Algumas ações que podem e devem ser implementadas pelas esquerdas:

-Permanente (e não apenas no período eleitoral) conscientização das massas, com reuniões periódicas com todos os segmentos sociais, inclusive com as elites mais avançadas (porque elas existem);

-Criar um “dia nacional da cidadania”, movimento de massas de grande envergadura, para que a direita reacionária saiba com quem está lidando e para que o povão tenha conhecimento de sua força;

-No lugar ou apesar dos milhares ( e quase sempre inócuos) pequenos jornais das esquerdas, criar um jornal de grande porte, um jornal para todo o Brasil. Deverá ser um jornal com uma nova linguagem (nas esquerdas existem talentos para fazer coisas brilhantes) capaz de se tornar o “rei da bancas” em pouco tempo.

Com a união dos recursos das esquerdas, o jornal poderá ser vendido pela metade dos preços dos jornalões.

E será o jornal para divulgar as notícias boicotadas pela grande imprensa, para falar do Brasil que avança e para confrontar as opiniões da grande imprensa, sempre pessimistas e sempre no intuito de criar um clima contrário aos interesses nacionais.

Criar um jornal, para divulgar as verdades sobre o Brasil, é urgente e absolutamente fundamental. E é algo perfeitamente exequível. Sabendo-se que, ao contrário do que é usualmente  praticado pelos jornalões, ter opinião não significa ter de boicotar os fatos, ou seja, é possível fazer o bom jornalismo e ter opinião.

No mais, para finalizar, reitero que as esquerdas brasileiras tem o dever de manter o poder, pelo menos até que a Democracia seja realmente estabelecida entre nós.

O belo símbolo dos míticos 40 anos da travessia do deserto pelo povo hebreu, até chegar à terra prometida, tem que ser lembrado. Os míticos 40 anos foram para que uma nova geração chegasse à terra prometida.

Portanto, é preciso manter o poder, até que se forme uma nova geração e até que a Democracia chegue a todas as instituições brasileiras, ou seja, até que os filhos dos pobres possam se ombrear aos filhos das elites.

Por tudo isso é que, neste momento, é indispensável ter viva a bandeira do povão, aquele que iniciou a travessia de uma sociedade profundamente desigual para uma sociedade participativa: o imortal Presidente Lula.

Celso José de Brum é ex- professor de Sociologia e Estudo dos Problemas Brasileiros, da Unitau

O texto foi recebido por e-mail

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